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Revitalização da Casa de Mudas: uma nova perspectiva para os agricultores de Seropédica

Publicado em: 19/01/2019

Revitalização da Casa de Mudas: uma nova perspectiva para os agricultores de Seropédica

O projeto será o primeiro beneficiado com a campanha lançada pelo Instituto Maniva. Saiba porque a Casa de Mudas é tão importante para os agricultores da região

Quando o projeto Casa de Mudas foi estruturado, os agricultores orgânicos Isabel e Augusto Xavier viram nesta iniciativa a oportunidade de garantir mais recursos para a produção de alimentos no sítio Bakamart, do qual são responsáveis. Não só os seus trabalhos estariam assegurados, como também os de outros profissionais do campo que atuam na região de Seropédica e no entorno, entre eles os produtores integrantes do grupo Raiz Forte, do Sistema Participativo da ABIO (SPG-ABIO), como a própria família Xavier.

A instalação do sistema de irrigação para a revitalização da estufa no sítio Bakamart, traria para os agricultores locais o acesso à infraestrutura necessária para o aumento da produção durante o ano. Dessa maneira, todos conseguiriam produzir suas próprias mudas orgânicas, por exemplo, em vez de buscá-las longe do local de trabalho, devido à falta de recursos locais. Para que o cultivo de alimentos orgânicos se torne sustentável, é preciso planejamento. Com a campanha de financiamento coletivo do Instituto Maniva, lançada no final de 2018, renasce a esperança de vencer diversos obstáculos enfrentados por estes trabalhadores.

“Atualmente, não consigo produzir de forma eficiente, uma vez que faltam algumas ferramentas importantes para a realização do meu trabalho. Com a revitalização do sistema de irrigação da estufa de produção de mudas isto será possível. Por enquanto, passamos por algumas adversidades, dentre elas, o deslocamento para a região serrana para adquirir as mudas orgânicas. Quando eu conversei com a Teresa Corção (presidente do Instituto Maniva) sobre o projeto, levantamos juntas com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que é uma grande parceira e realiza estudos nas propriedades rurais em Seropédica, quais mudanças seriam necessárias para que a Casa de Mudas passasse a funcionar efetivamente e para que todos possam usufruí-la.” relata Isabel.

A produtora ainda explica que é necessário o agricultor produzir suas próprias mudas orgânicas, uma vez que nas mudas convencionais são encontrados substratos com antibióticos, além de fungicidas e outras substâncias nocivas, que não fazem parte do cultivo agroecológico. Já as mudas orgânicas de segunda mão podem vir contaminadas com bactérias. Isabel também afirma que, além dos trabalhadores rurais, produtores de horta urbana também são numerosos na procura pelas mudas orgânicas, utilizadas para vivências e pesquisas.

É neste momento que o Instituto Maniva entra para dar suporte para Isabel e Augusto. Como já foi divulgado, entre as ações previstas a partir da campanha recorrente do Instituto, está o fortalecimento de produtores familiares orgânicos. A família Xavier será a primeira beneficiada, com a revitalização da Casa de Mudas. Com o apoio, será possível adquirir substratos suficientes para a produção de bandejas de mudas, ferramentas para a captação de água, utilizar o painel solar de maneira adequada e preparar o chão adequadamente para o plantio, entre outros benefícios.

A revitalização para outros agricultores

O grupo Raiz Forte, do Sistema Participativo da ABIO (SPG-ABIO) , reúne cerca de 30 trabalhadores rurais certificados que atuam seguindo as regras que garantem a qualidade e atestam que os alimentos comercializados são orgânicos. Estes trabalhadores atuam em cinco municípios do Rio de Janeiro, são eles: Seropédica, Itaguaí, Paracambi, Rio Claro e Piraí.

Entre os agricultores deste grupo, está Flávio Lourenção, que ao lado da esposa, Cristina Lourenção, produz batata doce, aipim, quiabo, verduras e hortaliças, no Sítio do Pica-Pau Magrelo. Flávio explica que os produtores rurais, como ele, estão na região de Seropédica aproximadamente há 30 anos, no assentamento Sol da Manhã. Eles são um grupo de resistência, uma vez que estão ocupando e produzindo de maneira agroecológica em um lugar que, anteriormente, era extraída areia.

O extrativismo de areia em Seropédica impactou negativamente a região, trazendo grande desgaste para o solo. As atividades de base orgânica são uma maneira de reverter e resgatar alguns estragos provocados pela extração. No entanto, as consequências ainda trazem alguns problemas para os agricultores, pois eles necessitam de água para irrigação e diversos recursos para a produção de mudas orgânicas.

“A muda orgânica representa 50% de garantia de uma boa colheita, se ela estiver em bom estado. Portanto, para produzirmos e comercializarmos bem, é preciso que o local esteja saudável principalmente em relação à irrigação, pois a água é de suma importância para produzirmos bandejas de mudas de qualidade”. Afirma Flávio.

Outra produtora, Fernanda Chagas, cultiva legumes e verduras no Sítio Carneiras e Vargem Alta, ao lado do marido Michael Tsunehar. Há cinco anos na caminhada, Fernanda confirma as dificuldades para garantir as mudas orgânicas. Ela e os demais agricultores de Itaguaí, por exemplo, precisam se deslocar até Itaipava para buscar estas mudas.

Já Edilene Portilho agricultora e facilitadora do grupo Raiz Forte – nascida no Pará, de familiares ribeirinhos, residentes às margens do Rio Tocantins – viu a hidrelétrica de Tucuruí, do estado onde nasceu, afetar milhares de pessoas, por gerar desequilíbrios ambientais, extinção de espécies, deslocamentos forçados e um imenso alagamento de terras.

A triste e nova realidade motivou a produtora a migrar para o Rio de Janeiro, em 2002. No estado, desembarcou com a finalidade de se aprofundar nos assuntos do campo e ampliar as perspectivas, cursando Ciências Agrícolas, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Residindo desde então em Seropédica, aproximou-se de assentamentos e de outros agricultores do Raiz Forte.

A frente do Sítio das Borboletas, Edilene Portilho produz plantas alimentícias não convencionais – as hoje famosas PANCs, além de realizar trabalhos em parceria com a UFRRJ. Ela endossa as afirmações de Isabel quanto à importância da autonomia na produção de mudas orgânicas para a produção de alimentos. Sua expectativa é de que a revitalização da Casa de Mudas solucione a escassez de recursos, sobretudo referentes ao suprimento de água para a produção.

“Fico muito contente com a revitalização do sistema de irrigação da estufa de produção de mudas da companheira Isabel Xavier, do sítio Bakamart, uma vez que isto vai representar uma ação positiva em relação às nossas maiores dificuldades que são: a oferta de mudas orgânicas aos produtores locais e o suprimento de água para a produção. Aqui em Seropédica, todos os produtores rurais enfrentam problemas sérios com a seca, porque nossos solos são arenosos, as chuvas são escassas e os poços estão secos na maior parte do ano. Além disto, há um problema sério de contaminação dos cursos d’água e do lençol freático. Isto acontece devido às explorações de areia, que deixam uma ferida exposta no lençol freático. Para piorar, foi construído um aterro sanitário em cima de um ponto de recarga do maior reservatório natural

de água da região. Mesmo diante das dificuldades e da falta de apoio à agricultora familiar, nós atuamos como resistentes na missão de produzir alimentos saudáveis. Estamos no verão e estamos há um mês sem chuva, a maioria dos agricultores não possui reservatórios para acumular água e, aqueles que os têm, também estão com seus reservatórios secos. Espero que esta ação de revitalizar a irrigação seja multiplicada e ampliada no sentido de termos acesso a poços artesianos, por exemplo, pois não basta ter o sistema de irrigação, é necessário que se tenha água em abundância. Na verdade, mais propriedades estão necessitando de estruturas para garantir a produção orgânica no município.” Explica Edilene.


Crédito para a fotógrafa: Simone Carrocino, colaboradora do Projeto Olhar Saudável.

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